sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O Pelotão de Petrechos

Quem serviu no Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal após sua transferência das instalações da Base Naval de Natal para a atual localização no bairro das Quintas -instalações do antigo CIAT-, deve lembrar que a tabela mestra da Unidade, à época, não era a mesma da atual.  Naqueles tempo o comandante era um Capitão-de-Corveta, atualmente é um Capitão-de-Fragata, a organização das subunidades era por pelotões, atualmente é por companhias.

Após a cerimônia de Juramento à Bandeira, fui escalado para servi no Pelotão de Petrechos.  Na época o auxiliar do pelotão - a praça mais antiga - era o então 2º Sargento IF Geraldo Bezerra.  Os demais sargentos IF: Evito, Leocádio, Paulo e Guedes.  Estes senhores foram meus guias nos meus primeiros passos no corpo da tropa os quais os tenho na mais alta estima, respeito e consideração nestes últimos 40 anos!

A organização, por armas, do pelotão de petrechos à época: Seção de Metralhadoras Automáticas - MAG, Seção de Lança Rojão e Seção de Morteiros, no caso o morteiro 60 mm.

Era comum nós servirmos nas diversas seções fim aprender o domínio do manejo das armas do petrecho. 

As aulas teóricas e práticas do manuseio das armas, sempre eram ministradas a todo pelotão de formas a todos terem o domínio teórico e prático.

As metralhadoras MAG, por seu potencial de fogo, podem ser empregadas tanto na 'ofensiva' como na 'defensiva'.  As necessidades táticas é que vão determinar o seu emprego. Em função do seu poder de fogo, podem serem usadas para deter ou eliminar frações de tropas inimigas, quando bem empregadas.

O lança rojão é uma arma de trajetória tensa e pode ser empregado contra tropa ou viaturas em geral, porém quando usado contra blindados sobre lagartos, a sua granada deve explodir nos lagartos de formas a deter o avanço da viatura, deixando sua tripulação frágil para que nossa infantaria termine o serviço.

O morteiro 60 mm - nós costumávamos chamá-lo de 'morteirinho 60' pois existe o morteiro de 81 mm.  Os morteiros são armas de trajetória curva, as granadas ao serem disparadas do tubo lançador, fazem uma trajetória curva se assemelhando a uma parábola. Das três armas é a mais complexa para operar pois exige dos seus operadores conhecimentos mais profundos de topografia, o uso de tabelas de munição para se ajustar a arma conforme a distância do alvo e o tipo de munição.  Basicamente a operação da arma consiste no seguinte: o observador avançado passa pelo rádio as coordenadas do alvo e solicita um tiro para observação da sua eficácia ou não.  Com estes dados - coordenadas e distância do alvo - a equipe que está guarnecendo a peça, ajusta a 'deriva' e 'inclinação' conforme a distância, o tipo de granada e as coordenadas do alvo.  Após estes ajustes, se coloca uma granada no tubo lançador do morteiro. Caso haja alguma falha, qual seja, a granada não foi disparada, então existe um conjunto de técnicas que os operadores da peça cumprem fim sanar o problema, com segurança tanto pessoal quanto material.  Após o disparo, a granada cumpre sua trajetória curva em direção ao alvo.  Caso esteja tudo certo, a granada deverá cair em cima do alvo e explodir.  Na hipótese desta explosão não eliminar o alvo, o observador solicita ao chefe de peça que dê mais tiros fim obter a 'eficácia'.  A outra hipótese é da granada não acertar o alvo, aí existem quatro possibilidades: a granada caiu além, aquém, à esquerda ou à direita do alvo, numa distância 'x'.  Ao notar esta situação, o observador informa ao chefe de peça o erro para que seja corrigidos a 'deriva' ou a 'inclinação' ou as duas em conjunto.

Eu gostava das aulas teóricas e práticas do morteiro em função de poder aplicar os conhecimentos de matemática voltados à trigonometria e geometria.

Com relação ao corpo de pessoal do petrecho, tem algumas histórias que, à proporção que elas vierem à minha memória, irei postando por aqui, mas daquela época tenho um colega que nos tornamos amigos: Hélio Antonio Rocha de Oliveira da turma de 70 que veio a cursar Comunicações Navais em 1977 - somos da mesma turma de Esp-CN/77, e depois formos servir no Batalhão Humaitá.  São muitas lembranças maravilhosas tanto da vida a bordo quanto da vida familiar, pois nossas esposas e filhos compartilharam conosco muitos momentos felizes.

Caramba!  O post hoje ficou um pouco longo! Mas...

Adsumus! 



4 comentários:

Noel disse...

Muito bom, Félix. Fui Cmt do Pel Ptr por um ano (1982) na 2ª Companhia do Btl Paissandu. Foi muito tiro na Ponta do Varejo.

Miguel Felix Barbosa disse...

Agradeço o comentário ao post, Caro Comte Bustorff! Também fiz muitos tiros na Ponta do Varejo quando servi no Batalhão Humaitá, mas aí, serão histórias (posts) para futuro! Rsrsrsrs!! Abraços e boa sorte!

Unknown disse...

O Exército Português usou-o na nossa Guerra do Ultramar e chamava-se-lhe "morteirete":

"Morteirete é um tipo de morteiro ligeiro, desenvolvido pela Fábrica de Braço de Prata (FBP) para uso do Exército Português no final da década de 1960. Este tipo de arma destinou-se a ser usado pela infantaria ligeira em áreas densamente arborizadas, como eram as da selva africana de Angola, Moçambique e Guiné onde decorria a Guerra do Ultramar."(wikip.).

Tive formação em morteiros pesados na EPI(Escola Prática de Infantaria),em Mafra. Posso dizer que os morteiros evoluiram desde 1984. Os morteiros pesados agora são autopropulsionados, andam fixos num veiculo. Tem a vantavem da precisão e da rapidez de tiro, mas constituem um alvo mais dificil dedissimular.

Para mim o mais temível é o morteiro de 81, que é de "toca e foge",fácilmente transportável por dois homens(até 70kg) e fácil de dissimular. Hoje em dia tem um alcance bastante grande para morteiro médio(até 6000m e mínimo de 100m).

Quanto ao temor que inspiram, recorde-se a guerra do Vietenam e a nossa guerra de África.

http://www3.dsi.uminho.pt/academiamilitar/2002/pdf/Powerpoint/MORTEIROS.pdf

Miguel Felix Barbosa disse...

Caro Miguel Leal! Agradeço a participação no blog, enriquecendo o post. Abraços e boa sorte! Adsumus!